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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Chegada das canoas

Ciro Machado TRAIPU TERRA DA GENTE CHEGADA DAS CANOAS Naquele tempo, as três da tarde de sexta feira, começava aparecer no horizonte de baixo, no São Francisco,antes do Tijuco, onde a vista mal alcançava,aqueles pontinhos brancos vermelhos e amarelos.Eram panos das canoas que surgiam por cima do filete prata daquele corredor de águas correntes, entre morros ,e planícies,ciliares do Rio Velho Chico.Pareciam borboletas voado em direção ao oeste,contra os raios do sol,e a favor da carreira dos ventos,que as impulsionavam.De lá da tamarineira e do monumento da Santa Nossa Senhora do Ó,alguns que esperavam sabiam decifrar qualquer canoa ,mesmo muito longe,só pela cor e pelo tipo de pano.A Candelária de Jason Palmeira,Canoa de Tolda,desgastada pelo uso, tinha nas velas remendos , marcando no amarelo,a sua identidade.Assim eram as outras canoas,todas tinham sua marca que dava para se conhecer de longe,pelos espctadores acostumados com aquele tipo de vista..Distante se identificava uma embarcação pelos panos.Os panos da Joelina eram grandes amarelos bem claros,com a bandeira brasileira enas pontas dos mastros..Os carregadores as vezes diziam,não essa ,é do sertão, de Pão de Açucar,outro dizia,é de Pedrinho de Zé Charuto de Gararu,de Jacinto da Barra do ipanema.Enquanto a discussão continuava, a distância diminuía, ela se aproximava , tirando a dúvida, a realidade ficava, clara.Mas uma chata de panos brancos,cruzados aproximava-se é de Traipu, a de Belé,e vai para o Riacho Grande,boa de pano e muito corredeira.Mais outra chata de Mane Aprigio,a Estrela do Mar,novinha feita por Abelardo Damasceno, do sitio Tibiri,seu cunhado.De repente a Canoa de Tolda de Zé Dandão surgia, a Conquista, depois de reformada virou, Nova Conquista.A São Roque do irmão de Zé Dandão,Zé de Morena,estava no porto cheia de cal,iria vender aquele produto ,vindo de Belo Monte ,depois ia descer o rio ,de porto em porto.Já sumia do poente acima da Tabanga a figura de uma canoa de tolda do Sertão,talvez a ITabajara,alem da chata de Zeze Brauna,do Salgado.Outras já passaram no Buraco de Maria Pereira,bifurcação da Tabanga acima de Traipu.Passava algumas , que nas imediações daquele famoso Buraco,tinha muito medo de virarem,ou se afundarem, na hora de passar o pano,porque um tufo de vento saia para o rio de lá,de vez, desorientando as velas das embarcações,Teve gente que já viu uma canoa de Tolda se afundar lá.Dizem que uma mulher que pizava arroz morreu com a mão de pilão na mão,pensando ser uma bóia.Quando resgataram o corpo,deu trabalho tirar a mão dela da mão do pilão.Mas há registro de mais casos.O povo corria para o porto de cima ,onde encostavam as canoas,com aas mercadorias,vinda de Propriá,principal fornecedor de bens de consumo de nossa cidade.Os Carregadores,entravam na água até o joelho, pegavam colocando, nas suas cabeça, tudo que veio de lá.Esteiras,sacarias,vassouras doces,bolos,bebidas como a teimosa,de cravo e canela,a branquinha de Arabí Cabral,a famosa poca olho,e tudo mais.Lembro que numa dessas viagens,já chegando em Traipu a canoa de Tonho Bulachão,na passagem do pano para dar o porto.A escota (corda com moitões,que alivia o peso e a força braçal,na hora de puxar o pano,arrastou o filho de Fiinha de Ataíde o Luiz Carlos,laçando-o na água,causando seu afogamento.Fiinha ,que tinha um casal de filhos,Leda e o menino,ficou em tempo de morrer.Ela comprava mercadorias em Propriá para revender,era freguesa daquela canoa.Ainda tentaram pega-lo mas não conseguiram ,devido a marulhada e correnteza ,que dificultou o socorro.Dias depois acharam o corpo do menino boiando longe perto de Propriá. O porto dde Traipu era cheio de canoas nos dias de sábado,da feira semanal.Chegavam canoas da praia,precisamente de Carrapicho ,empilhada de louças,potes panelas e brinquedos de barros para vender na feira de Traipu.Naquele tempo eu sempre comprava uns bois zebus pintado,e cavalos com caçoares.As canoas de Traipu vindas na sexta,de Própria, tinham descido, as quintas feiras a noite,onde os canoeiros iam zingando,sem parar, amanhecendo o dia lá naquela Cidade Sergipana.Nas idas e vindas ,os passageiro,Seu Belo,Seu Oscar,Juarez ,que tinha medo do Jaraguá do carnaval, filho desse ultimo,contavam casos e estórias de trancoso,relacionadas com o rio,como a mãe d água ,o nego d água,etc.Era até divertido, a viajem,já acostumados com a vida mansa e sem pressa.Não existia os rádios de pilhas.A musica que ouviam era tocadas nos autofalantes distribuidos comercio de Propria.Eles faziam propagandas das lojas ,mandavam mensagens e tocavam musicas de Orlando Dias,Valdik,Silvinho,Nelson Gonçalves.etc.Ronberto Carlos despontava na mídia, com iee,um ritimo que não se tocava ainda nesses programas ,ao ar livre.Os traipuenses,compravam as mercadorias,e saiam geralmente de onze as doze horas.Chegavam em Traipu antes do anoitecer,quando o vento estava bom,época de verão.No inverno teriam que largar ,muito cedo,se não, só chegavam a noite ,ou no outro dia.Eram esses fregueses,os donos de vendas ,Marilita,Seu Bêlo,Flodoaldo,Mané do Quartinho,Murilo,Seu Oscar,Eronildes de Belinha,Artur de Laura,Atevino Cavalcante,Zé Pindoba,Luiz Pindoba,Vicentão, e muitos outros.Seu Belo trazia bananas ,laranjas,e,cebolas,e outras frutas alem de esteiras, vassouras etc,Marilita Trazia esteiras, bala de banana ,doce de batata,e materiais artesanais.Mane do Quartinho ,esteira chapéus etc,Zé Pindoba,Luiz seu irmão ,Atelvino Cavalcante ,Artur de Laura ,Flodoardo,Murilo,Paizino ,pai de Murilo,Eronilde de Bela traziam cachaça de Arabi Cabal e a teimosa,alei da cajuína.Esse eronide tanto vendia como tomava,e bêbado dizia:-já ouviu falar que sou rico?o cara era só dizer, já.Tomava de graça.Eronides,quebrou.Essas cachaças engarrafadas chegavam em sacos fechados,cheirando muito,quando passava nas cabeças dos carregadores.Tonho Martim,Sinhazinha,Maria Savaiva faziam encomenda e seu Chiquinho trazia.Tonho Martim não era freguês de Bulachão porque chamava ele de Gengibre,teve lepra perdeu os dedos,ficou aleijado,D.maria Saraiva era velhinha,Seu Ferreira de dona Sinhazinha paralitico.Geraldo Bode era canoeiro de Buachão,dava desfalque nas bananas de seu Belo,da popa mesmo onde segurava o leme,jogando as cascas nagua, sem eo dono perceber.Era, canoeiros também,Pintinho de Inez, da de Zé Dandão,Luiz de Osmundinho da de Ranufo ,e das canoas de tolda que desciam para própria.Bom piloto,Peba de Maria Jose também pilotava canoas de tolda.Era preciso saber,tinha arte.Tinha outros,que não lembro.A chegada dessas canoas era uma verdadeira festa ,onde a gente de cá, via como umas corriam mais que outras.para chegarem no porto,passavam o pano e voltavam no borde.Esses bordes de chegada,que todas tinham que fazem,na hora de dar o porto,tinha grande habilidade dos pilotos,pois já desciam.No meio,passavam o pano,baixavam a bolina ,depois vinham numa carreira desenfreada.Já em cima, como um freio,giravam o leme para o outro lado,descendo mais as duas tabuas de bolina que arrastavam no barro levantando a lama do fundo, parando de vez aquela canoa.Restava amarrar os ferros,soltando as ancoras. Um na frente e outro atrás. Dava gosto ser ver todos os detalhes,dos pequenos gestos na condução dessas embarcações.Tinham que ser bons mesmo.Encostavam umas bem próxima das outras,sem ao menos triscar de raspão.Lembranças daqueles momentos inesquecíveis.Na hora de dar o porto,como se chamava,ficávamos atentos,pois é aí, que os bons mostram suas habilidades. Como eram encantadoras essas canoas,quando despontavam ao longe.Dava ate para confundir com aves, comparando-as,com um bando de patos e paturis,planando como tainhas ,as marulhadas espumantes das correntezas do rio.Quantas saudades!Quem viu pode até dizer,tempo bom,o das canoas do São Francisco.

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