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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Plantadeiras de arroz

TRAIPU TERRA DA GENTE AS PLANTADEIRAS DE ARROZ Ciro Machado Uma das muitas Fazendas que praticavam o plantio de arroz nas lagoas em Traipu,era a fazenda antiga Colonial , Sacão,nas margens esquerda do Baixo São Francisco,abaixo da cidade de Traipu,com uma lagoa de mais de cem hectares propícios a agricultura desse grão de plantio inundado, na lagoa conhecida com o do Sacão.Recebe as águas barrentas,férteis das cheias do rio pela porta d água ,por onde se controla através de tábuas ,a entrada e saída dessas .Ou seja,com o rio cheio,são abertas,retiradas as pranchas, para a água entrar,invadindo junto com a correnteza ,que traz vários filhotes de peixes,procurando se acomodarem onde ,crescem ,engordam e até produzem dentro dessa bacia .Recebe também águas dos morros, das chuvas caídas nos altos através dos riachos Timbauba, Piteco ,e outras pequenas grotas.Assim que chega o período de chuvas , descem essas águas ,as vezes aumentando consideravelmente o nível daquele espelho.Conheci,centenas de mulheres plantando arroz nessa lagoa,Quase tudo mulheres, pobres de Traipu,verdadeiras heroínas do baixo São Francisco.As palavras que se tiverem para falar sobre elas ainda são poucas,porque trabalhavam com alegria e dedicação,apesar do serviço duro,penoso.Se ouvia cantar modinhas,satisfeitas,porque sabiam que tinha plantado a sua sobrevivência,o arroz,base alimentar da família,portanto plantado ,nada atrapalhava a colheita ,não precisava de mais alguma coisa,para produzir.Agora era só esperar. A garantia da sustentação da família com o produto do seu trabalho era real.Quando em dezembro , começava encher o rio a esperança ,era eminente vendo entrar água nas lagoas e várzeas.Uma vez cheias,fechava-se as portas d’águas.Aquele volume represada era essa garantia do plantio.As vezes tinha arroz já cacheado quase se afogando, no valado,se cortando dentro ainda da lamina úmida,das caixas mais baixas os caldeirões..Todas as cidades ribeirinhas o regime do rio era por igual,dependiam totalmente dessa cheia para a sobrevivência.No Sacão ainda tinha ainda a lagoa do Pires,de poucos hectares, um lameirão onde se fazia as sementeiras,antes da porta d’água.. A várzea de Traipu,com muitas centenas de hectares,eram separadas por valados,diques,de protegiam as águas represadas.Tinha a porta d água do Farias,na fazenda Paraná,que controlava uma parte das águas,tinha a do PE do Banco que segurava a do cabaceiro,e outra menores,a de Derneval,saco das Pedras,etc. Em Fevereiro após, a cheia do Rio São Francisco, que surgia, mais ou menos, finais de Dezembro e Janeiro, mas sempre vinha ou as vezes mais cedo .Pouco tempo depois, começava a vazante,aparecendo os lameirões,nas orlas.Isso dependia das chuvas de Minas Gerais, nas cabeceiras do Rio.Lameirões,são depósitos de argila,e humos deixados pelas cheiras,junto com o assoreamento provocados pela erosão, dos cultivos morro abaixo.Nesses lameirões,se faziam a semeia do arroz.Depois de quatro a oito dias,o arroz ensacados eram amarrados dentro d água ,para a correnteza não levar, imerso,começavam a germinar em menos de oito dias.Os tipos de arroz plantados eram o agulha agulhinha e o perola e chatinho.Todos essas são arroz variedade branco.Mas tem uma variedade que também se cultivava, o arroz vermelho,considerado em algumas regiões como praga,por ter um valor inferior.O vermelho teria que ser plantado só longe das outra espécies,para não causar hibridação e contaminar o plantio convencional. Pragas como insetos ,Lagartas e gafanhotos Não era preciso venenos,os próprios pássaros davam conta de tais As pragas mais comuns entre ervas daninhas,e difíceis dos valados são as salsas ,aguapés com belas flores amarelas e brancas,folhas parecendo a vitoria régia,boiando na superfície ,e língua de vaca,alem da beleza da baronesa com flores azuis muito bonitas, de matos moles como mentrastos e outros.Geralmente esses morriam afogados pela lamina aqüífera.Tinha alguns lugares que criavam muitos caramujos,até sangue sugas.As vezes tinha calumbis,um espinheiro de cor escura muito fechado e difícil erradicação..Os muçus são peixes,que agem dando prejuízos, tipo uma cobra preta escorregadia, se enterrando na lama as vezes, furando as paredes dos aterros que dividiam os dique de plantio.A macela um tipo de planta de cheiro característico nascia como praga nas lagoas,dificultando o plantio.Nas terras duras adensadas pelo uso direto do plantio, as vezes aparecia uma infestação de juncos ,muito difíceis de serem erradicado.Já trabalhei muito arando terras de Derneval,abaixado muito corte do arado para erradicar essa praga virando a raiz para cima, expondo ao sol .Depois era gradeada essa área,par ficar uniforme.Ganhei muito dinheiro varando noites em cima do banco dum trator,dividindo o turno com meus irmãos,dia e noite trabalhando,antes das cheias invadir aquela área.Teria que aprontar a s áreas com urgência, na frente da inundação.Não poderiam ser feita antecipadamente meses,porque eram eles precisavam daquele pasto para o gado.Isso nas várzeas de Traipu,todo mundo cria bovinos..O junco,como era conhecida aquela ciperácea, já morta ,era hora de gradear para deixar a água afogar o resto.,A gradagem do valado servia para evitar aquelas valetas,deixadas pelo arado,ficando mais ou menos nivelada, a lamina de água facilitando o plantio,e fazendo render mais.Algumas pessoas,adubam esses valados com esterco de gado,antes da aração.difícil usar adubo químico.Também ninguém usava inseticida contra pragas. As lagoas são rodeadas de muitas marizeiras,canafisteiras e oitizeiros ,abrigos naturais de aves.Tinha também existe algumas frutas nativas,silvestres como murta uma frutinha em forma de coração ou uma castanha vermelha ,varagens que são sementes revestidas de uma polpa branca transparente agridoce em cacho comestíveis ,e maçazeiras,não própria ao consumo,diziam que dava fome canina.Tinha uma plantinha que dava um fruto conhecido por mata fome ,parecido com uma pimenta comprida de casca em forma de canoa ,bem vermelha e por dentro uma maça branca,Os meninos comiam,mas não tinha gosto de nada..Nas lagoas grandes ou várzeas as vezes usam canoas para transportar as mudas e despejarem de acordo a necessidade de cada valado.Nas menores os feixes são carregados nas cabeças dos homens.Tanto os lameirões quanto as lagoas eram geralmente de grandes fazendeiros,que bancavam a semeadura do cereal até o arranque das plantas de transplante,entregues dentro dos valados.O resto era por conta dos meeiros.Ou seja a produção da semente daí por diante era parte do proprietário da terra,a metade da produção já batida e ensacada .Muitos que tinham as trilhadeiras,cobravam em produto o serviço correspondente.Usavam como medida padrão o selamim,correspondente a dez litros.O alqueire era trinta e dois selamins.Se dizia tantos alqueires,tomando por base trinta e dois vezes dez,ou seja trezentos e vinte litros ,um alqueire.As palhas da batição,que são as do cacho ficavam nos terreiros,mas as do corte ficavam nos valados onde depois se colocava o gado para aproveitar como alimento.Geralmente todo fazendeiro era criador de gado.Caso quisesse,era só aguar as socas,que daria uma segunda safra,embora fraca mas,daria .Só não fazem isso porque precisam da pastagem das sobras dessa plantação.Depois de batido o arroz,os terreiro são invadidos por outro tio de praga os pássaros. Centenas e mais centenas de veludos pat chocas,tié sangue de bois,cabeços,chupinhas,galos de campina e todas as aves,a procura de restos de arroz pelo chão.Os meninos armavam arapucas de tabocas ou paus e de sangra pegando muitos pássaros,para comer frito no óleo.As de sangra enchiam dessas aves..A operação de semear o arroz se dá antes do inverno normal.Era a hora exata de jogar uniformemente, com as mãos ,semeando nos lameirões,das vazantes.Depois se cobria com uma fina camada de terra com a enxada.Se o lameirão secasse,teria que aguar com cuias,jogando água do rio,ou aspersores.Isso,aqueles poucos, que tinham esse equipamento.Ali a sementeira crescia,enquanto os valados(quadras de aproximadamente uma tarefa de área)dentro das lagoas,esperavam as plantas ,do cereal. Enquanto as sementeiras de arroz cresciam lá na beira do rio, os valados cheios afogavam as ervas dentro deles que também era destruídas pelos peixes, para a hora do plantio.Se algum mato crescesse naquela água teria que ser arrancado.O plantio teria que ser na lamina aqüífera,limpa.Chegada o dia ,em Março,Abril, ou mais,o arroz arrancado feito feixes era jogado na água.Ai entrava o trabalho das plantadeiras,destrinchando os feixes que vinham amarrados com salsa , fazendo pequenos montes de cinco ou mais plantinhas enterrando-as (com um dedo abre o buraco e com outro enterra e fecha),num espaço preciso, de palmo de um lado e outro,ou menos. As cantorias , em dupla,trio,quarteto ou que seja,fazia um coro do som de vozes em segunda ou terceira voz,ficando muito bonitas as modinhas cantadas.Tinha uma que puxava o canto com o verso refrão,.aAs outras entrosadas respondiam em coro”O capim da lagoa,” resposta “o veado comeu”.Musicas de Lampião,Maria bonita,folclóricas etc,e assim por diante .Essas musicas ,enfeitavam os ares dos valados.De pés descalços com as saias levantadas e presas na cinta, entravam na água,fria arriscando cortes nos pés por cascas e caramujos, mordidas de sangue sugas em alguns lugares,ate o perigo de cobras,mas não desistiam .Muito pelo contrario quanto mais dificuldades mais coragem elas tinham.Eu tinha uma tia a Maria José,mulher sofredora exemplo de persistência,trabalhadeira demais,nunca rejeitou serviços de plantio de arroz , em lagoa nenhuma.A fauna aquática, constituída de peixes como piau bamba piaba não fazia medo,mas tinha o perigoso espora pé,o mandim.Fazia medo pisar no esporão desses que poderia até aleijar o pé..Lembro do nome de algumas mulheres que plantavam no sacão.Lucinda,Amelina ,Fiinha,Bbelinha,Anita de Juviana,Amália, Belinha de Luiz Cajebe Alzira ,Graciete de Barroca,as filhas de Caeira, centenas de mulheres,que no momento não recordo.Andava muito lá e via elas na luta,diária,com hombridade e alegria. As mulheres do Itamarati, quase todas eram plantadeiras de arroz. Algumas vezes tinha piranha e pirambebas,que causavam medo.A vantagem ,era que sabiam ,assim que batessem na agua, eles corriam para o caldeirão do valado,o lado mais fundo,assustados com os movimentos da plantadeiras.Debaixo das Marizeiras, ficavam os filhos mais novos daquelas mulheres.Era lá também que cozinhavam as refeições.Enquanto plantavam, seus filhos brincavam com frutos do mari,bois de paus ,capucos e pedras debaixo da sombra da arvore.Aqui e acolá ,ia uma mãe socorrer um filho que chorava ,porque tinha levado uma espinhada no pé.Assim plantavam toda área,chamando de fechamento.Fechavam o valado.As plantinhas do arroz em fileiras retas, só com o olhinho de fora da água nem sentiam ,a mudança de lugar, todas pegavam bem,ia crescendo rápido,dentro daquela lâmina fertilizada pelas enchentes ,enquanto escorria o excesso ,soltava (esvaziada)pelas portas d águas das lagoas.Era nessa correnteza ,provocada pela gravidade, numa abertura do paredão do diqui,de volta para o rio junto com o peixe, procurando sair,caindo num jiqui.Esse ficava na porta d água.O jiqui é armadilha feita de varas,dentro do depósito depois das tabuas da referida porta d’água.O peixe caia junto da água escorrida em cima da esteira ja pronto para ser pego sem dificuldade.O rio já se encontrava com o nível muito mais baixo que o das lagoas.Por isso esse liquido, retornava sem dificuldade,por efeito da descida.Logo em pouco tempo a arroz,verde escuro parece que dobrava de tamanho ,com a fertilidade do húmus,trazido pela enchente, fechando todos os espaços . Era um mar de folhas verdes vibrando com a passagem dos ventos,até Setembro,quando o ouro do arroz aparecia em cima da folhagem verde, mostrando o ponto certo de colheita..O corte dos cachos eram feitos com cutelos amolados,junto em montículos para depois levar a um terreiro grande e bem limpo onde seria batido.Geralmente esse terreiro ficava perto de casas e armazéns do guarda do cereais.Alguns desses armazéns tinham um outro tipo de terreiro,cimentado em anexo,onde utilizavam para secar o cereal,antes da armazenagem.Depois de batido ainda continha muita umidade.A comercialização do produto ensacado,era feita em Propria, Se.para as industrias de beneficiamento.As quintas feiras as canoas desciam carregadas de arroz e subiam o rio com os feirantes e suas feiras ,eram esse pequenos comerciantes de frutas e outros gêneros.Cansei de ver sair do Sacão, a chata de Tonho Bulachão cheia por cima de sacaria de arroz.Saia dessa fazenda cada safra mais de duas mil sacas de 40 kg ,arroz em casca. Antes da colheita,nas lagoas ,enquanto o vento assoviava,nas plantas,os azulões e patas chocas,pássaros típicos dessas plantações,numa orquestra ornitológica,alegres ,faziam sua festa e davam um prejuízo razoável ,naquelas culturas.Era preciso, colocar meninos com petecas para vigiar,espalhar espantalhos,alem de providenciar com urgência o corte desse cereal.Nuvens desses(pássaros),sem sossego de um lado ara outro,numa peleja sem paz. Os espantalhos eram pouco respeitados pelas aves.Tinha gente que usava fogos, de artifícios,pistolões.As crianças teriam que ficar brincando dentro das plantações para tanger os invasores, ate o completo amadurecimento dos grãos,sob pena de só colher arroz chocho. Chegada a colheita. O corte manual, também em feixes,transportados para um terreiro onde seria batido,no cacete ou com máquinas,trilhadeiras.O arroz, e planta de meiação.O proprietário da lagoa,fazia a sementeira,preparava o valado e entregava o produto dentro dele.O corte ,a batição, por conta do meieiro. Mas em todo lugar o sistema de plantação era de meia.A divisão dos produtos era meia parte do proprietário e meia do lavrador.O proprietário entrava com a sementeira arrancada dentro da lagoa.A lavradora bancava o resto ate a bateção.Quando o proprietário usava a maquina cobrava em produto aquele trabalho.A divisão era meio a meio.Muitas famílias ensacavam a sua parte da safra e traziam para suas casas em casca,onde armazenavam em caixotes ou mesmo nos próprios sacos.As palhas do arroz cortado nas lagoas,eram usada pelo gado.Nos períodos difíceis de pastagem escassa seus proprietários já colocavam o gado imediatamente .Só esperavam carregar o arroz,par o gado ir para as socas, aquele lugar .As socas são rebroto verdinho,que apareciam com força,devido a umidade do fundo das lagoas..Eu mesmo,junto dos meus parente ,Julio,Zé Machado,pastoramos montados em cavalos,algumas vezes,o gado que comia perto do arroz ,que ainda estava para colher.O gado avançava a medida que se cortava e retirava o produto.Como a lagoa era grande a gente deixava o gado distante,da plantação e saia pelos caminhos a pegar parelha montado nos cavalos.As famílias já com seu produto em casa,aos poucos iam tirando todos os dias ,pisando num pilão,para fazer a alimentação básica da família.As sobras da palha pisadas viravam ração para porcos,ou assadas com água isca para covos, de camarões.O xerem,que são os grãos machucados,que caem da malha da peneira,ficava servindo como ração de pintos e perus.Existiam dois tipo de pilões.Os horizontais que não passa de uma barra de braúna ou aroeira com um buraco onde o pilador,fica sentado e os comuns com duas bacias uma em cima e outra em baixo servindo de base de sustentação.O serviço ´feito em pé e se quiser pode duas pessoas com duas mãos de pilão,pisarem alternando as pancadas.Depois da primeira pilada,é só segurar o ritmo que o serviço rende o dobro.Com a construção das barragens para hidroelétricas houve o descontrole das cheias,acabando de vez essas lavouras. Aas Barragens das Hidroelétricas,destruíram o regime dessas enchentes, acabando as atividades agropastoris,e piscosas,por completo nessas áreas de vazantes,trazendo fome ,insegurança ,para todos que dependiam delas..O governo deveria ter pensado nessa economia e evitado esse desastre causado para os ribeirinhos.Será se o preço do progresso tem que ser tão caro assim, acabando a cultura a tradição, deixando ´so a fome ,a desolação?

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